Era um dia como muitos outros. Nada podia anunciar o que estava para chegar. Às vezes as coisas desenrolam-se de tal maneira que ninguém espera, porque, de certa maneira, nunca ninguém acreditou que assim pudesse acontecer. Umas acções sucedem outras, sempre na mesma calma, sempre com as mesmas relações de causa e consequência. E o simples facto de estas pessoas terem acordado naquela manhã, teria evitado um dos maiores flagelos de toda a sua história.
Era um dia como muitos outros. Ana acordou primeiro, enquanto tomava o seu duche, provavelmente cantava. Porque quando alguém toma um duche, canta. Nem que seja para dentro, canta. Mas Fábio não ouvia. No outro quarto dormia pacifico, quase inabalável, mas não tão inabalável que um grito de Ana não o conseguisse acordar. Com dificuldade se levantou. Ana vestia-se no seu quarto. Fábio mijava na casa de banho. Ana ainda se vestia. Fábio vestiu-se também. Ana nunca mais terminava de se vestir. Fábio comia. Ana comia. Fábio esperava. Mas a espera foi curta e cedo se retiraram de casa.
Era um dia como muitos outros. As pessoas na rua não sorriam. O céu estava nublado. Ainda estava escuro. Ana pensava abrir o chapéu de chuva por precaução. Fábio usava os óculos-de-Sol para que não lhe vissem as olheiras. No café, não havia troco para tabaco. Correram para a estação. Por entre a turba, correram para a estação. Não estava muito frio, mas também não estava calor. Fábio ligou o seu leitor de música. Ana havia esquecido o seu. Pela primeira vez, pensou que o dia não lhe poderia correr bem.
Ao chegar à faculdade, procuraram a sua sala. Mais uma nova disciplina. Os colegas, só quatro, sentaram-se a quatro lugares de distância. Fábio e Ana puderam admirar mais uma vez o calor humano espanhol. O calor humano espanhol cheira a suor. Então, entrou a professora. Era baixa, atarrecada e falava um Inglês quase perfeito. Falhava-lhe pouco. A senhora esperou que chegassem mais alunos, mas nunca chegaram. Desgostosa, começou a aula. Durante perto de uma hora, falou sobre o programa da disciplina, sobre os trabalhos, sobre a avaliação. Sobre tudo aquilo que é igual em todo o lado mas que todos os professores julgam que é original. Antes de terminar a aula, pediu que fizessem uma pequena redacção sobre o significado de Morfosintaxe. Um amor de pessoa.
Depois, mais uma nova aula. Desta vez com uma professora que o Fábio diz que faz lembrar a sua professora de Português do 11º, que era bêbeda e se vestia da mesma maneira. A professora havia sido apelidada de Santana, em honra de uma personagem de uma novela brasileira. Esta também o foi. A Ana mostrou a sua veia artística na aula. Preencheu uma folha inteira só com uma linha. Por várias vezes fomos levados a fazer comparações entre a língua Portuguesa e as que falam aqui. Os colegas olham-nos de boca aberta. Pensam que só os génios sabem falar Português. A maioria dos Portugueses pensa o mesmo e não pode ter essa consideração por si próprio.
Saídos das aulas. Compraram livros. Um livro para Castelhano, outro para Inglês. Já há trabalhos. Culpa de Bolonha. Bolonha chateia em todo o lado. A Ana imprimiu um horário na reprografia. Fez questão de comprar um tubo de cola para o poder colar. O Fábio aguardou. A caminho de casa, visitaram lojas de bijuteria e compraram tabaco. Que aliviados estavam os dois.
Almoçaram restos do jantar. Restos! Saíram depois para o café com o seu melhor amigo, Victor. Durante meia hora, falaram de tudo e acabaram fazendo planos para ir os três passar um fim de semana no Port Ventura, e ficar numa casa lá perto. Pensavam os dois, "os nossos amigos não têm esta sorte". Mas não sentiram pena. Amigo não empata amigo, é o que pensam. Os outros que se montem.
Passaram a tarde a trabalhar no Powerpoint sobre o estágio. A Ana tentou ver o Moulin Rouge. O leitor de DVD não gosta deles. Recusa-se. Recusa-se nas melhores partes.
À noite, o Fábio fez o jantar. Ao guisar a carne de porco, acabou por cozê-la. O Fábio gostou. A Ana gozou. O Fábio gozou com ela de volta. A Ana gozou mais. O Fábio também. Gozaram por uma boa meia hora. Depois o Fábio limpou o ralo à Ana.
Cansados, foram para o quarto para escrever aos seus amigos. E então o pior aconteceu. Aquilo que nunca deveria ter acontecido. Aquilo que podia ter sido evitado se o dia tivesse sido diferente. Aconteceu que...
O frasco de perfume da Ana partiu-se e agora não se pode estar no quarto dela. Pobres alminhas ! Salvem quem tem que estar neste quarto que não se pode. É pior que os pés do Fábio que já têm piteu a chulé cinco minutos depois de sair do banho.
Nossa senhora nos acuda.
Santo do Dia: St. Alexandre
Os Aventureiros
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
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2 comentários:
"Antes de terminar a aula, pediu que fizessem uma pequena redacção sobre o significado de Morfosintaxe. Um amor de pessoa."
Genial!
Quando li "o Fábio limpou o ralo à Ana" não gostei, fiquei preocupado, ansioso, perplexo... Com o esclarecimento posterior, o meu espírito descansou.
Está tudo bem com vocês? Motivação lá em cima?
Baci***
João Ricardo Sousa Soares
Voces sao loucos da cabeça :P (posso não comentar muito mas leio sempre!) *
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